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Mulheres na alfaiataria: a evolução da alfaiataria como espaço feminino

Atualmente, a alfaiataria está presente no guarda-roupas de homens e mulheres por todo o mundo, mas não foi sempre assim. Até o início do século XX, os blazers, calças e coletes eram peças exclusivas para uso dos homens, além de também serem produzidas por eles. Ozenir Ancelmo, professora do SENAI CETIQT, conta sobre as dificuldades de sua inserção no universo da alfaiataria nos anos 90, os bastidores da famosa Savile Row, mudanças da produção artesanal para a industrial, a desconstrução da alfaiataria clássica e a importância da pós-graduação de alfaiataria industrial para o mercado da moda.
Proprietária do Atelier Ozenir Ancelmo, ela relata sua trajetória como amante da alfaiataria. “Há mais de 25 anos procurei por diversos alfaiates em São Paulo, já que não existiam cursos nessa área naquela época. Bati de porta em porta, até que cheguei em um profissional que, por acaso, era do Sindicato dos Alfaiates. Ele abriu a oportunidade para que eu acompanhasse o processo, mas advertiu que eu não participaria dele. Acompanhei e foi tudo muito fascinante. Até que, mais tarde, comecei a ir para a Inglaterra todo mês de julho para realizar cursos de férias, e um deles foi o de alfaiataria. Aprendi muito sobre a montagem dos blazers, todos produzidos manualmente”, declara.
Em uma de suas viagens, Ozenir teve a oportunidade de conhecer a Savile Row, uma das alfaiatarias mais tradicionais do mundo, e falou sobre a invisibilidade das mulheres no processo de produção: “é assim: na frente da alfaiataria os homens estão atendendo os clientes, estão atrás dos balcões. Mas quando você entra, vai se deparar com 80%, ou mais, de mulheres trabalhando. Por trás dos holofotes essa é a imagem. Hoje, é um universo que tem muitos nomes de mulheres, mas, predominantemente, ainda são os nomes masculinos. Quando você é mulher e vai produzir, já vem o questionamento ‘como ela vai fazer um terno masculino?’”, diz.
A Savile Row, localizada no bairro de Mayfair, em Londres, se tornou um dos locais mais requisitados para a compra de ternos, uma rua onde a atuação na área da alfaiataria passa de pai para filho, assim como a tradição artesanal, com costuras feitas à mão e sob medida, especificamente para o gosto e corpo do cliente. “Hoje em dia, nessa questão tão contemporânea de linguagem e tudo, a gente faz uma mescla do que seria uma montagem clássica para algo mais contemporâneo, de formas diferentes, mais desconstruída. Muitas vezes, o alfaiate mais clássico, provavelmente não vai considerar isso uma alfaiataria. Atualmente temos uma alfaiataria um pouco mais acessível, que não necessariamente é sob medida, exclusiva. Se quiser comprar um blazer pronto, você vai achar para comprar porque existem várias marcas que oferecem esse tipo de trabalho. E para isso acontecer, se torna necessária essa mescla de alfaiataria manual e industrial. A alfaiataria industrial permite uma agilização no processo todo da produção, e o mercado exige isso. Mas é essencial aprender técnicas mais artesanais também. O importante da alfaiataria é você ter o conhecimento mais amplo para afunilar no seu nicho”, comenta Ozenir.
A professora ainda fala sobre o papel da mulher dentro do ambiente de alfaiataria. “O que importa, é o profissional ter um conhecimento técnico grande, um conhecimento profundo de todos os materiais que envolvem a produção para um resultado satisfatório. Quando se trata da alfaiataria, existem algumas coisas já implícitas. Existe uma certa estruturação dessa roupa, uma preocupação com esses acabamentos. A alfaiataria é uma alta costura que vem do masculino, e a gente tem migrado isso para o feminino. A partir do momento que a gente passou a usar blazer, calça, que eram roupas restritas a homens, nós também passamos a ter o direito de fazer nossos próprios blazers e fazer para nossos clientes também, sendo homens ou mulheres. O que importa de verdade é ter muito conhecimento técnico para fazer uma roupa de qualidade”, afirma.

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